tag:blogger.com,1999:blog-41926099072344126542024-03-13T16:36:50.551-07:00(des)AfetosA história de todos nós
(Histórias do cotidiano de pessoas comuns).Carla Castro Maiahttp://www.blogger.com/profile/02622049595390979907noreply@blogger.comBlogger7125tag:blogger.com,1999:blog-4192609907234412654.post-32411193925553219232016-10-16T18:05:00.000-07:002016-10-18T10:21:24.530-07:00Creuzinha, na força e na fé<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
"Existe alguém em nós</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em muito dentre nós esse alguém</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Que brilha mais do que milhões de sóis</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E que a escuridão conhece também</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Existe alguém aqui</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Fundo no fundo de você de mim</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times"; font-size: 16.0pt;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Que grita para quem quiser ouvir..." (A luz de Tieta)</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times"; font-size: 16.0pt;"></span><br />
<div class="separator" style="clear: both;">
<a href="https://lh3.googleusercontent.com/-mwKg8Y2loos/WAQkd0BugQI/AAAAAAAAc5g/HV9ZLbiE1kQ/s640/blogger-image--1046749076.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://lh3.googleusercontent.com/-mwKg8Y2loos/WAQkd0BugQI/AAAAAAAAc5g/HV9ZLbiE1kQ/s640/blogger-image--1046749076.jpg" /></a><span lang="EN-US" style="font-family: "times"; font-size: 16.0pt;"></span></div>
<span lang="EN-US" style="font-family: "times"; font-size: 16.0pt;">Ela chega todo dia, super
animada, mesmo quando uma gripe fora de hora fica cercando, murchando a
disposição. Mas a força ali é titânica, um chá, um remedinho ganho de seu
Ademar, o jardineiro, uma boa noite de sono e logo está ela ali do lado
chamando ‘<i>Vem tomar um café fresquinho, vem.</i>’, com aquele sorriso grande,
amigo. Um café e um papo bom, por vezes acompanhado de puxão de orelha ou um
empurrãozinho oportuno e motivador ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ó
xente, menina, quê isso? Vai sim senhor... Claro que consegue, sô.</i>’ E no
final: ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Vai lá, vai lá que vai dar tudo
certo.</i>’ </span><br />
<a name='more'></a><span lang="EN-US" style="font-family: "times"; font-size: 16.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times"; font-size: 16.0pt;">O melhor de tudo é que
Creuzinha por si só, já é presença motivadora. Recém separada, após 28 anos de
casamento, na força e na luta, muitos bons momentos, sete filhos, em meio a
muita briga, desgosto, amor e ódio, assim mesmo, junto e misturado, com muito vento
e tempestade. Nos últimos tempos de casamento, as tempestades triplicaram, e o
desamor só cresceu, mas nem assim ela deixa de cuidar, de se preocupar. Nada de
abraços, pra não afrouxar e voltar atrás. Ajuda sim, porque ruindade ali nao
cria raiz, e com ela é só amor e paz, então uma mãozinha sem exagero, no cutucão quando precisa, no
exemplo, na boa conversa, com a palavra mansa e firme. Aberta e amiga o
necessário, mas sem sustentar malandragem, nem de filho. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times"; font-size: 16.0pt;">No momento ela só quer
crescer, apreciar a liberdade de poder fazer o que quer e bem entende, tomar as
próprias decisões e não dizer amém, quando quer gritar de raiva, injustiçada,
por não ter nada, recebendo as migalhas machistas de Chiquito, o marido avexado
com ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">mulher que quer ficar na frente de homem…
Quê isso?!</i>’. E Creuza segue, orgulhosa de seu quase império, recém iniciado. O
terreno, o barraco na vila Soma, simples mas arrumadinho, pra chamar de seu.
Agora nem com o calor ela sofre mais, porque ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">tem até ventilador’</i> e um... carro! Isso mesmo um carro. O dinheiro
o patrão emprestou, e ali está ele. Quando chega em casa, é o primeiro que vê,
seu carro, </span><span style="font-family: "\22 times\22 "; font-size: 21.33333396911621px;">‘</span><span style="font-family: "times"; font-size: 16pt;"><i>branquinho, lindo</i></span><i style="font-family: '"times"'; font-size: 21.33333396911621px;">’</i><span style="font-family: "times"; font-size: 16pt;">. ‘</span><i style="font-family: times; font-size: 16pt;">Ai meu Deus</i><span style="font-family: "times"; font-size: 16pt;">’ ri
histérica, o coração pulsante de tanta alegria. ‘</span><i style="font-family: times; font-size: 16pt;">Dá licença, gente, que eu tou passando. Poderosa euzinha aqui.</i><span style="font-family: "times"; font-size: 16pt;">’
Mais um ‘</span><i style="font-family: times; font-size: 16pt;">sonho realizado</i><span style="font-family: "times"; font-size: 16pt;">’, seu lema do momento. ‘</span><i style="font-family: times; font-size: 16pt;"><b>Mais um sonho realizado</b></i><span style="font-family: "times"; font-size: 16pt;">’ grita feliz toda a vez que conta seus
feitos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times"; font-size: 16.0pt;">Esse poder todo veio mesmo
com o primeiro celular, que não vai nunca esquecer. Ganhou dos
filhos, não faz muito tempo, sob o olhar mal humorado de Chiquito. Em pouco
tempo, mesmo lendo ‘<i><span style="mso-bidi-font-style: italic;">malemal</span>e</i>’
aprendeu tudo e saiu se comunicando com o mundo. WhatsApp, facebook,
Instagram... Achou os parentes que não vê há 25 anos, irmãos, sobrinhos, tios.
Todo mundo com a cabeça branca, rostos estranhos que ela teve que olhar muito
para reconhecer as feições jovens e infantis que deixou pra trás, junto com a
fome lá em Natal pra tentar a sorte em São Paulo. Agora até ensina os outros,
sabe direitinho o que é hashtag e sabe também que a esta altura Chiquito
ficou para trás. Que depois que seu mundo cresceu não tem mais volta, agora seu
olhar está lá adiante, pra lá das fronteiras e ela quer mais, caminhar sempre e
pra frente. </span><span style="font-family: "times"; font-size: 21.33333396911621px;">Aprendeu que é capaz.</span><span style="font-family: "times"; font-size: 21.33333396911621px;"> </span><span style="font-family: "times"; font-size: 16pt;">O mundo espera muito dela e ela não pretende decepcionar. É só o
início. Pegou o gosto do sucesso. </span><span style="font-family: "times"; font-size: 16pt;">Orgulho ela sente de si
mesma, muito, mas sem exagero. A humildade tá ali juntinho, ‘</span><i style="font-family: times; font-size: 16pt;">pauapau</i><span style="font-family: "times"; font-size: 16pt;">’. </span><br />
<span style="font-family: "times"; font-size: 16pt;"><br /></span>
<span style="font-family: "times"; font-size: 16pt;">A verdade é que Creuza não
sabe, mas ela é uma guerreira ao estilo antigo, um personagem saído dos
romances clássicos, ou talvez um tipo que inspirou muito autor. O espírito
guerreiro tem valores inerentes, uma alma sábia, conhecedora da vida, da
fraqueza humana. Participou de muitas guerras, sabe que os caminhos estão
cheios de tentação, ela viu muita gente cair feio e nunca mais se levantar,
aprendeu que a maior luta é consigo mesma, sempre, e talvez a maior. Trabalhou
em muitos lugares, viu muita riqueza, passou ilesa sem nunca desejar sequer o
que não era seu. Por isso desfila orgulhosa de suas conquistas, de seu carrinho
branquinho, tão seu, que ela agradece ao patrão e paga com muito gosto. E, no
final da tarde, chegando de mais um dia puxado e feliz, ela senta no seu sofá
surrado, tão seu, olha feliz seu barraquinho arrumado, limpo, silencioso, cheio
de paz, no Salve Jorge, 22, lá no Vila Soma, ‘</span><i style="font-family: times; font-size: 16pt;">sim</i><span style="font-family: "times"; font-size: 16pt;"> </span><i style="font-family: times; font-size: 16pt;">senhor</i><span style="font-family: "times"; font-size: 16pt;">’ e agradece de
novo tudo. É um ritual repetido mentalmente cedinho e de noite: ‘</span><i style="font-family: times; font-size: 16pt;">Obrigada, meu Deus, pelo meu emprego, pelos
patrões bons, pelo meu barraquinho…</i><span style="font-family: "times"; font-size: 16pt;">’</span></div>
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<!--StartFragment-->
<!--EndFragment--><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "times"; font-size: 16.0pt;">Eta, eta, eta, eta…</span><span lang="EN-US" style="color: #1a1a1a; font-family: "arial"; font-size: 13.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
Carla Castro Maiahttp://www.blogger.com/profile/02622049595390979907noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4192609907234412654.post-3800217158367270872016-02-16T17:14:00.003-08:002016-10-16T18:21:00.766-07:00Voltas e reviravoltas de um palito<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-RL8FrqmF2AQ/VsPJBWpuqwI/AAAAAAAAa3w/-z4INE1_hPs/s1600/Palitos.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-RL8FrqmF2AQ/VsPJBWpuqwI/AAAAAAAAa3w/-z4INE1_hPs/s1600/Palitos.jpg" /></a></div>
Ela entrou e olhou em volta encantada. Tudo era lindo,
delicado e suntuoso. Desde o menor objeto aos grandes armários que
forravam as altas paredes, ou os majestosos lustres cheios de pedrarias que
pendiam do teto. 'Hummm! Dignos de um palácio!'<br />
<a name='more'></a></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
Deteve-se junto a umas prateleiras circulares, apreciando
cada objeto. Bailarinas de louça rodopiando que lembravam antigos casarões. A
música que vinha das caixinhas reportou-a à imagem de sua avó e à infância.
Voltou a olhar em volta, andando devagar, como querendo absorver tudo. Passou a
mão no veludo de uma chaise longue. Que requinte!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ela verdadeiramente sentia-se em casa.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Estava decorando uma salinha íntima e aquele
local era o ‘lugar’. Tudo ali era inspiração. Aquela mistura de épocas era bem
sugestiva. Dirigiu-se ao balcão, sempre olhando em volta. Não havia ninguém
atendendo. Uma porta entreaberta sinalizava que a qualquer momento alguém
apareceria. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Aguardou uns bons 10 minutos. Viu então um sino em cima do
balcão. Pegou-o e ergueu-o à altura dos olhos, apreciando os detalhes. Cristal com acabamento em prata, avaliou mentalmente! Passou os dedos nos detalhes. “Mas
que coisa mais mimosa” disse, sem perceber que falara alto. E então sacudiu o
sino, sorrindo ao toque musical, que não a decepcionara. Poderia ter um desses
na minha mesa, disse. Desta vez para si mesma. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Voltou a circular o olhar, imaginando o que poderia adquirir
para 'sua salinha'. Gostava de chamar de salinha íntima, apesar
de funcionar como um escritório, mas a idéia era dar um toque de feminilidade e
um certo requinte. Cercar-se de recordações e beleza, mas sobretudo de
delicadeza. Apenas uns poucos objetos para realçar o que já tinha. "Um... toque!"<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Suspirou e voltou-se de novo de frente para o balcão, olhou
o relógio. Viera cedo, exatamente para encontrar as lojas vazias. Voltou a
tocar o sino. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Pois não, dona? – Dona? Repetiu para si mesma, sem saber se assustara com a voz ou o termo. Definitivamente aquela sua manhã parecia... interessante? Acompanhou desconcertada o homem grande circular o
balcão e parar bem na sua frente. Não conseguiu responder logo, tentando refazer-se da surpresa. Definitivamente
aquele homenzarrão bigodudo com aspecto de taberneiro, seria a última figura
que esperaria encontrar ali. Bom, pelo menos não ao natural, pensou divertida e quase refeita do espanto. <span style="mso-spacerun: yes;"> E seguiu divagando... U</span>ma pintura em meio aos enormes
quadros que forravam as paredes? - Éééé... Sacudiu a cabeça de um lado para o outro em conversinha consigo mesma. Deu um passinho para trás, tentando avaliar a figura grande e o jeito... desleixado? Era impressão sua ou ele estava suando? E a roupa? Não parecia limpa. Seria o proprietário? Não havia porque se surpreender,
afinal via-se cada figura excêntrica por aí.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="mso-ascii-font-family: Cambria; mso-bidi-font-family: Cambria; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-hansi-font-family: Cambria;"><span style="mso-list: Ignore;">-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span>- <i>Bom dia. Desculpe, eu fui entrando, mas será que a loja
está aberta? É um pouco cedo... - </i>O homem pareceu olhá-la confuso. </div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
- - <i>A porta está
aberta...</i></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
“ - <i>Ah, sim, claro</i>. -<span style="mso-spacerun: yes;"> Sentiu-se um tanto indecisa, sem saber direito o que dizer. </span><span style="text-indent: -18pt;">- <i>Bom, eu</i></span><span style="text-indent: -18pt;"><i> preciso de umas peças mimosas. Estou
decorando uma sala feminina e estou pensando em algo fino</i>.</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="mso-list: Ignore;">-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span>- <span style="text-indent: -18pt;"><i>Mimosas?</i> – Ela estremeceu. Era um palito
aquilo na boca dele?</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="mso-ascii-font-family: Cambria; mso-bidi-font-family: Cambria; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-hansi-font-family: Cambria;"><span style="mso-list: Ignore;">-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span>- <span style="text-indent: -18pt;"><i>Sim, sim, nada muito exagerado. Vi ali umas
estatuetas de bailarina, e umas caixinhas de música lindas...</i></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="mso-ascii-font-family: Cambria; mso-bidi-font-family: Cambria; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-hansi-font-family: Cambria;"><span style="mso-list: Ignore;">-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span>- <i><span style="text-indent: -18pt;">Hum...</span><span style="text-indent: -18pt;"> </span><span style="text-indent: -18pt;">E
porque não pegou?</span></i></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="mso-ascii-font-family: Cambria; mso-bidi-font-family: Cambria; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-hansi-font-family: Cambria;"><span style="mso-list: Ignore;">-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span>- <span style="text-indent: -18pt;"><i>Bom... não sei... Tem avisos para não tocar...</i></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="mso-list: Ignore;">-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span>- <span style="text-indent: -18pt;"><i>Mas se a dona vai levar...</i> - De novo? Santa Madalena! Ela tentava não olhar
o palito rolando de um lado para o outro na boca do homem, mas ele colocara-se
bem na sua frente.</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="mso-ascii-font-family: Cambria; mso-bidi-font-family: Cambria; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-hansi-font-family: Cambria;"><span style="mso-list: Ignore;">-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="text-indent: -18pt;">Talvez ele tivesse também um botequinho onde
trabalhava à noite. Afinal as pessoas devem fazer o que gostam. Não era o que
ela estava fazendo? Porque o homem não poderia? Talvez a esposa dele é que
cuidasse da loja e naquele dia encontrava-se ausente, talvez... Pareceu mais
aliviada com suas divagações, conseguindo até sorrir.</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="mso-ascii-font-family: Cambria; mso-bidi-font-family: Cambria; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-hansi-font-family: Cambria;"><span style="mso-list: Ignore;">-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> <span style="font-family: -webkit-standard; font-size: small;">-</span> </span></span></span><!--[endif]--><i>Se é assim</i>... Foi e voltou com algumas peças. –
E lá estava o palito, mexendo-se e remexendo-se na boca do homem. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="mso-list: Ignore;">-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span>- <span style="text-indent: -18pt;"><i>Esta peça parece bem interessante, será que não
teria outras similares, para formar um composê?</i> – Tentava muito não olhar.</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="mso-ascii-font-family: Cambria; mso-bidi-font-family: Cambria; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-hansi-font-family: Cambria;"><span style="mso-list: Ignore;">-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]-->O homem tirou o palito da boca e ficou rolando
com ele entre os dedos, olhando a peça. Alisou o farto bigode com os dedos,
recolocou o palito na boca e pegou na peça. Ficou virando e revirando entre os
dedos, como se acompanhasse os movimentos do palito na sua boca. Deve ser um cacoete.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="mso-ascii-font-family: Cambria; mso-bidi-font-family: Cambria; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-hansi-font-family: Cambria;"><span style="mso-list: Ignore;">-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span>- <span style="text-indent: -18pt;"><i>Um compu... compu... </i></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="mso-list: Ignore;">-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span>-<span style="text-indent: -18pt;"><span style="font-family: "times new roman"; font-size: 7pt; line-height: normal;"> </span></span><span style="text-indent: -18pt;"><i>C</i><i>omposê.</i> – Disse. Agora com certa irritação,
concentrada em não olhar o palito que parecia ter criado olhos, não parando de
encará-la. Olhou as mãos grandes do homem meio sujas, avermelhadas, os dedos
grossos, e pensou que não teria coragem de tocar de novo naquela peça, que a
esta altura não lhe parecia mais tão mimosa, nem bonita, e muito menos
requintada. A imagem daquelas mãos grosseiras do taberneiro e do insultuoso palito, ficariam para sempre marcadas na peça.</span><span style="text-indent: -18pt;"> </span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="mso-ascii-font-family: Cambria; mso-bidi-font-family: Cambria; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-hansi-font-family: Cambria;"><span style="mso-list: Ignore;">-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]-->O homem recolocou cuidadosamente o mimo no
balcão. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="mso-ascii-font-family: Cambria; mso-bidi-font-family: Cambria; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-hansi-font-family: Cambria;"><span style="mso-list: Ignore;">-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span>- <span style="text-indent: -18pt;"><i>Deve ser uns troco violento. </i></span>“Mas que diabo?!...”</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 18pt; text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="mso-list: Ignore;">-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span>- <span style="text-indent: -18pt;"><i>Sim, sim, seria bom saber o preço.</i> – Queria era
ir embora. Apertou a alsa da bolsa, que carregava no ombro direito, com as duas
mãos, tentando </span><span style="text-indent: -18pt;">não enjoar com o palito, mantendo certa
distância do balcão. Voltou a estremecer quando ele retirou novamente o palito da
boca, apontando-o na sua direção. Retrocedeu mais... </span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<span style="text-indent: -18pt;"> </span>- <i><span style="text-indent: -18pt;">Olha
dona, eu sou só o carregador.</span><span style="text-indent: -18pt;"> </span><span style="text-indent: -18pt;">Tou aqui no
fresquinho dando uma parada pra descansar... A D. Júlia tá lá dentro com o
patrão, conferindo as mercadoria.</span></i></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<o:p></o:p></div>
Carla Castro Maiahttp://www.blogger.com/profile/02622049595390979907noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4192609907234412654.post-30633089254111808722016-02-04T14:19:00.002-08:002016-10-16T18:22:10.693-07:00Luana<a href="https://4.bp.blogspot.com/-DzkSjHdcjHc/VrYaKenn2gI/AAAAAAAAa1E/A1JpS9Hkfn4/s1600/Janela-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 0; margin-right: 1em; margin-top: 0;"><img border="0" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-DzkSjHdcjHc/VrYaKenn2gI/AAAAAAAAa1E/A1JpS9Hkfn4/s320/Janela-1.jpg" width="160" /></a><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: 18.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">L</span>uana lavava louça quando a bolsa estourou. Fechou a torneira e ali permaneceu serena olhando o horizonte. A poça no meio das pernas foi crescendo e ela finalmente moveu-se. Parecia alheia à algazarra que vinha da sala.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-family: inherit;">Estirou-se na cama, abraçou a barriga e ficou olhando o quadro pendurado na parede em frente, um recorte de revista com a foto de uma janela, de onde se divisava uma bucólica paisagem marítima. O azul do céu acentuava o ambiente de tranqüilidade. Luana apertou mais fortemente a barriga e seu rosto se contorceu. As dores das contrações reavivaram outras dores.</span></span><br />
<a name='more'></a><span style="font-family: inherit;">Depois de mais uma violenta surra, a pequena Luana de 10 anos, colocou a irmãzinha Lili para dormir. Ficou muito tempo sentada no escuro, ao lado da menina que, mesmo dormindo, continuou chorando baixinho por um bom tempo. Há muito o ódio suplantara a humilhação e toda a dor física. Era um sentimento tão profundo dentro de si, que Luana tinha a sensação que explodiria a qualquer momento. E o ódio guiou seus atos.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-family: inherit;">O porcão roncava refestelado no sofá, que a mãe comprara em uma época em que se importava com alguma coisa. A boca entreaberta e os olhos meio fechados resultavam em medonha careta. O rosto da menina encrespou-se quando viu a camisa e a braguilha abertas. Ele mexeu-se, os olhos tremeram e o bafo de álcool pareceu mais forte. Foi quando Luana desferiu o golpe, a força idêntica ao ódio que sentia. O animal ainda gritara igual aos porcos que a vizinha matava, mas quando acorreram as primeiras pessoas ele estava morto.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-family: inherit;">O assombro foi geral. A vizinhança perguntava-se como uma menina tão franzina, conseguira fazer tal estrago. Luana mostrara-se sempre uma criança dócil. Com responsabilidades de adulto, não sofreu somente as contingências de uma vida precária, mas também as marcas da vilania. Uma mulher negra, gasta pela idade e pela vida, falou que o morto era um traste que batia e “dormia” com mãe e filhas.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-family: inherit;">Não houve grande investigação, a bem verdade nenhuma. Ninguém pareceu nem notar o olhar sofrido no rosto de menina, ninguém também perguntou das marcas no corpinho frágil e esquelético. Naquele mundo não era evidência de nada. A vida brutalizada daquela criança não era nem uma tragédia. O seu rosto também não era importante, nem mesmo seu nome. Luana não era sequer um número. Naquela sociedade, sua história estava no meio de uma multidão de histórias tristes e grotescas. Os pormenores vis, a sujeira, a crueza da brutalidade, e a sordidez eram jogados para debaixo do tapete. Da classe média para cima, nos famigerados anos 80, os casos sórdidos que iam parar na justiça eram tratados a portas fechadas, escondidos do mundo, e nos jornais eram embrulhados num mesmo pacote e banalizados em termos que pouco diziam, apenas alertavam que o mundo nas favelas, na pobreza e na miséria era feio, mau e sujo. Assim se constrói uma marca, assim se cria a fama, se gera o preconceito, e ao mesmo tempo assim se destrói uma reputação, a dignidade e se aniquilam vidas.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-family: inherit;">Luana perguntava-se se não teria feito o mesmo com a mãe, caso ela estivesse presente aquela noite. Mas era melhor não ir fundo nessa questão. Levou muito tempo para deixar de escutar a voz esganiçada e arrastada de bêbeda: “Essa menina não presta, vivia tentando o homem, si trocava na frente dele. "Vagabunnda!”. Cabeças se reviraram chocadas com as palavras daquela mãe. Luana tentou enterrar o passado para semear a esperança.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-family: inherit;">Soando e chorando de dor, não tinha forças para calar as vozes do passado.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-family: inherit;">Depois de muito tempo na <i>Febem*</i>, sua mãe apareceu. Foi por Lili que Luana aceitou vê-la. Manteve-se afastada, fria. Mal se lembrava da última vez que vira a mãe sóbria. A visita foi rápida. Com voz entrecortada a mãe contou que se mudara para casa da vó Lucinda e Lili passava o dia numa creche. Na segunda visita, a irmã veio junto. A menina tagarelou pelas três. Luana sentiu uma pontada de amargura. Lili era muito pequena quando se separaram e parecia não se lembrar dela. Na hora de partir a pequenina abraçou-a e beijou-a sem hesitação e Luana chorou feliz. Luana apertou a irmã, saboreando com prazer aquele sentimento tão puro. Aquele momento alimentou por dias uma alegria que fazia tempo não sentia. Aparentemente sua mãe criara juízo, estava aprendendo costura no salão da igreja, trabalhando. As visitas foram rareando até que cessaram.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-family: inherit;">Foi uma época penosa a que viveu na fundação, mas não a pior de sua vida. Quando conheceu Chico, começou a ver o mundo com novas cores. Seu lugar preferido era uma janela gradeada que ficava no alto, onde ela enxergava o céu, que parecia cada vez mais azul. Permanecia ali muito tempo olhando para além das grades, imaginando um espaço acolhedor e bonito em algum lugar. Foi numa velha revista que Luana achou “seu pedacinho de céu”.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-family: inherit;">Namoro na Febem era difícil, mas Chico sempre dava um jeito. A primeira vez que cruzaram o olhar, Luana sentiu o coração bater forte. Ele sorriu e acenou<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>para ela. Depois tudo aconteceu muito rápido. Naquele lugar tudo era rápido. Banho de minuto, refeições corridas, pancadaria a torto e a direito, rebeliões... Ela sempre fora quieta, era chamada de “mudinha”. No entanto, ninguém escapava aos ataques brutais e ensandecidos de algumas internas e funcionários. Mas agora Luana tinha “seu pedaço de céu”.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-family: inherit;">Chico completou dezoito anos e foi embora. A despedida veio por bilhete, um pedaço de papel de embrulho grosseiro e amarfanhado que dificultava mais ainda a leitura já precária de Luana. Precisou de um dia inteiro para entender as letras incertas. Além de tudo tinha de ler longe das vistas dos funcionários. O coração de Luana pulsou de alegria quando percebeu tratar-se de um endereço. Seu futuro estava decidido.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-size: 12.0pt;">Chegou o dia. Luana sentia medo do mundo lá fora. O pouco que conhecia dele era feio e hostil. Não podia procurar sua mãe. Não tinha nada a dizer para ela. Seu coração estava vazio. Quanto a Lili, os laços e a cumplicidade de antigamente, haviam se diluído na distância e no tempo. Luana foi então ao encontro de seu destino. A favela ficava num bairro distante. Luana percebeu que a droga ali rolava solta. Para</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-size: 12.0pt;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-w2-7mOZnbAs/VrYlHJFr93I/AAAAAAAAa1Q/nyc5iVdsKec/s1600/Janela%2Bdo%2Bmorro%2Bda%2BRocinha-Luis%2BPrado-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: justify;"><img border="0" height="199" src="https://2.bp.blogspot.com/-w2-7mOZnbAs/VrYlHJFr93I/AAAAAAAAa1Q/nyc5iVdsKec/s320/Janela%2Bdo%2Bmorro%2Bda%2BRocinha-Luis%2BPrado-1.jpg" width="320" /></a>Para quem queria aprender sobre o mundo do crime, a Febem oferecia o currículo completo. Os <i>mano</i> como Chico os chamava passavam o dia dormindo, de noite sumiam.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ela andou de bairro em bairro, de porta em porta pedindo serviço, até que conseguiu uma faxina. A dona da casa, mãe solteira,gostando do jeito de Luana tratar sua filhinha, acabou arrumando outras faxinas. Aos sábados, Luana cuidava da pequena, só voltando para casa no domingo.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-size: 12.0pt;">Estava feliz. Grávida, achou que era hora de ela e Chico se mudarem, além do que, a hostilidade dos <i>mano</i> a incomodava. Ficou sabendo de uma casa no alto do morro. Quando bateu os olhos na janela da cozinha, achou que tinha encontrado o caminho para o seu pedaço de céu. Um dia sairia da favela. Mas isso ainda levaria um bom tempo. Ali começariam a construir o futuro.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Luana estava impaciente para mostrar a nova casa a Chico. Fez um jantar especial e, por ele, acabou chamando os <i>mano</i>. Ficou magoada com a reação do namorado. Chico disfarçava o nervosismo imitando os amigos, levantando os objetos e revirando-os com ar de troça, escarnecendo de tudo. Diante da mesa preparada com tanto capricho, onde não faltava nem um arranjo de flores no centro, eles caíram na risada. Olha só, olha só isso aqui. Mano, essa casa é uma novela</span><span style="font-size: 12pt;">!”. Quando um dos rapazes tentou pôr a mão na travessa, Luana não deixou. Uma das garotas se queixou de fome e a tensão serenou. Mais tarde já deitados, olhando o seu quadro na parede, Luana falou que gostaria de pintar os sonhos das pessoas. Chico deu risada, observando que ela tinha sonhos de branco. Embalado pela alegria e otimismo dela, ele prometeu procurar emprego. Luana recorreu à mãe da pequena Júlia que conseguiu uma colocação na oficina de um amigo.</span></span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="text-align: justify;">Aos dezoito anos, Luana possuía a maturidade de quem viveu muitas agruras. Quando o padrasto começara a surrá-la, odiara a mãe que além de se embebedar com o companheiro, fazia vista grossa aos espancamentos das filhas, quando não ajudava na festa. Lili tinha tal horror ao padrasto que, bastava escutar-lhe a voz para desandar a chorar e a urinar. Era quanto bastava para desencadear a fúria ensandecida do homem. O sofrimento de Lili ricocheteava na alma da irmã. Luana sentia a imensurável desproporção do peso que carregava em seu corpinho de criança. Seu grito desesperado irrompia em única palavra “Mãeeeeee...". A resposta, um enigmático silêncio, olhares fugidios e ou um abandono de cena. Esta inércia era como ponta de lança perfurando-lhe corpo e alma. Restava-lhe atrair a fúria do monstro, ofertando o próprio corpo em sacrifício.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-size: 12pt;">Depois de tanto tempo sendo açoitada aprendera a engolir o choro. Mesmo quando ele a sentava na mesa da cozinha sem calcinhas, lhe escancarando as pernas, molhando-a com a gosma que saía dele, furando-a, fungando e movimentando-se como um cachorro, Luana não chorava. Ela corria depois a se lavar, enojada e envergonhada. Não brincava com as outras crianças. Caminhava de cabeça baixa. Na quitanda precisava repetir várias vezes o pedido, de tão baixo que falava. Seu Joaquim pensava que ela era retardada.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-size: 12.0pt;">Oh, sim! Luana podia entender muitíssimo bem a revolta e o ódio de Chico pela sociedade. Abandonar uma criança nas ruas de São Paulo era o mesmo que condenar uma alma a um inferno dantesco para toda a eternidade. Discursos paternalistas e exibição de conhecimentos equivocados sobre crianças de rua, miséria e criminalidade proliferavam na televisão. Luana olhava aquelas pessoas que por alguma razão divina ou não, tinham uma vida privilegiada e em seu íntimo gritava-lhes “<i>O que vocês entendem de miséria, de fome, de maus tratos? Para que tanta<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>falação se nada vai mudar?</i>” Para ela, se a vontade de fazer algo fosse genuína, estariam nas favelas e na Febem, assistindo de camarote ao que acontecia na vida real. Na TV, o discurso estereotipado e as palavras bonitas, mascararam de fantasia a realidade.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-size: 12.0pt;">Chico começou a chegar em casa mal humorado. Não gostava do jeito como era tratado na oficina. Para piorar era o único funcionário negro. Nem sequer o chamavam pelo nome. Sentia falta dos amigos que passaram a ignorá-lo. Um dia sumiu uma ferramenta na oficina e o dono começou a olhá-lo torto. Quando sumiu a segunda, o homem arrumou uma desculpa e despediu-o.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-size: 12.0pt;">A hora avançava e Luana foi ficando agoniada. Subiu e desceu o morro até a exaustão. No dia seguinte acordou cansada, alimentou-se mal e aguardou penosamente o final da tarde. Eram nove horas quando decidiu ir até o barraco dos <i>mano</i>. Bateu palmas e chamou pelo nome de Chico. Não tendo resposta, criou coragem e entrou. Irritado com o modo desrespeitoso como ela entrara na casa, Chico destratou-a diante de todos, chegando a levantar a mão. Um homem mais velho chamou a atenção para o estado dela. Luana voltou triste e magoada. Naquela noite foi difícil subir o morro. Olhou muito tempo seu quadrinho, sentindo seu pedacinho de céu diluindo-se entre as lágrimas.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-size: 12.0pt;">Chico ficou três dias sem dar as caras. Seco, foi logo falando que perdera o emprego mas que daria um jeito. Luana disse que ele arrumaria um emprego melhor, só precisava ter confiança. Sem a encarar um momento sequer, ele pegou uma cerveja na geladeira, sentou em frente à TV e ali quedou-se mudo e olhar fixo na tela. </span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-size: 12.0pt;">A assiduidade com que os <i>mano</i> começaram a freqüentar sua casa confirmou o que tanto temia. Chico deixava envelopes com dinheiro na gaveta da cômoda. Luana passou a sentir medo. Cada pancada na porta era um sobressalto. Aos domingos, os <i>mano</i> apareciam em peso. Assistiam futebol na TV, permanecendo até altas horas jogando cartas, falando em códigos. Não podia faltar cerveja e carne.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-size: 12.0pt;">Certo dia, Luana pediu a Chico se poderia reunir-se com os amigos em outro lugar, porque ela precisava descansar. Chico respondeu agressivamente que os<i> mano</i> eram sua família e ela tinha que respeitar. Calma, ela redargüiu que respeitava mas sua casa era sua casa e ela tinha o direito de descansar, já que trabalhava a semana inteira. Chico assentou-lhe uma bofetada e perguntou se ela não estava satisfeita com o dinheiro que lhe dava. Luana foi pegar o dinheiro e jogou na cara dele. Desafiadora, disse com ar de desprezo, que nunca usaria dinheiro sujo. O segundo bofetão veio mais forte. E Chico se foi.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit; font-size: 12pt;"><br />
</span> <span style="font-family: inherit; font-size: 12pt;">Quase um mês depois, quando ele voltou, Luana lhe entregou em silêncio uma mala. Chico caiu em prantos, pediu desculpas dizendo que ela conhecia, como ninguém, seu sonho de ter uma família. Luana ficou sem reação. No fim terminou desfazendo a mala. Esta cena virou rotina e logo Luana não tinha mais forças para contrariá-lo. Volvia o olhar melancólico para o horizonte, na mesma janela em que vislumbrara, não fazia muito tempo, uma nesga de abertura para o pedaço de céu que a esperava. </span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: 12.0pt;"><br />
</span> <span style="font-size: 12.0pt;">Sem nem saber direito porquê, Luana foi procurar a mãe e a irmã. Levou presentes. Lili, agora uma adolescente, manteve-se afastada, meio sem jeito. Luana gostou de vê-la costurando junto à mãe. Aquela, nervosa, enrolava entre os dedos um pedaço de malha. Luana elogiou a casa bem cuidada. Quando perguntou do trabalho, a mulher falou com entusiasmo dos projetos. Pretendia comprar um overlock assim que terminasse de pagar a máquina de costura. Não faltava trabalho. Aprendera na igreja que não precisava mais de <i>uma porcaria de homem</i> para ser respeitada. Luana pouco falou. Na hora da despedida, a mãe segurou sua mão, perguntou se ela estava bem, seus olhos se encheram de lágrimas. Luana puxou a mão e afastou-se. Ainda não estava preparada para ver aquela mulher como sua mãe. Ela ainda escutava a voz esganiçada: "<i>Vaagabunnda</i>!</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: 12.0pt;"><br />
</span> <span style="font-size: 12pt;">As fortes dores trouxeram-na de volta ao presente. A hora tinha chegado e ela precisava lutar e sofrer uma última vez. Banhada em suor e lágrimas, Luana contorcia-se de dor. Evitando gritar, mordera a colcha com tal afinco que a rasgara, sem nem sentir o sangue que escorria do lábio. Uma hora colocou ambas as mãos entre as pernas que precisava segurar fechadas, forçando-se a empurrar o que insistia em sair. Quase desfalecendo, Luana lutava contra outra poderosa força da natureza.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-family: inherit;">No duelo de gigantes, cada qual tinha seu aliado: o filho, a vida; a mãe, a morte. Quando sentiu a cabeça do nenê saindo, Luana desesperou-se <i>“Não meu nenê, vem não. Mamãe vai levar você pro céu"</i> Fizeram juntos o último esforço e a dor se foi. Por um momento os olhinhos do pequeno ser se abriram para a luz, logo em seguida se fecharam para a morte. O último olhar de Luana foi para o quadrinho -, seu pedacinho de céu.</span><br />
<hr />
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">Em 1966, a FUNABEM publicou as suas Diretrizes e Normas para Aplicação da Política do Bem-Estar do Menor. Elaborado pela equipe técnica da Fundação, o document trazia a informação que a política do bem-estar do menor no Brasil, foi inspirada na <a href="http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/c_a/lex41.htm">Declaraçãodos Direitos da Criança, promulgada pelas Nações Unidas</a>, em 1959. Nele, os idealizadores da instituição reproduzem o discurso da Declaração, afirmando que a sociedade deveria oferecer ao “menor” as necessidades básicas como: “saúde, amor e compreensão, educação, recreação e segurança social”</span></div>
<span style="font-family: inherit;"><br />
</span> <span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">- Mais sobre a <a href="http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364699001_ARQUIVO_TextoHumbertodaSilvaMiranda.pdf">FEBEM</a></span></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt;"><a href="http://www.dhnet.org.br/dados/livros/edh/estaduais/rs/adunisinos/rodrigo.htm"><span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">- A trajetória brasileira na luta pelo respeito aos direitos humanos da infância e juventude</span></a></span></div>
<span style="font-size: 12pt;"><a href="http://br.pinterest.com/pin/create/extension/?url=https%3A%2F%2Fdraft.blogger.com%2Fblogger.g%3FblogID%3D4192609907234412654%23editor%2Ftarget%3Dpost%3BpostID%3D3063308925411180872%3BonPublishedMenu%3Dposts%3BonClosedMenu%3Dposts%3BpostNum%3D0%3Bsrc%3Dlink&media=https%3A%2F%2F1.bp.blogspot.com%2F-J-r7lMfxGjQ%2FVrPPsbLSP1I%2FAAAAAAAAa0c%2F7tvs7UbTY98%2Fs1600%2FJanela%252Bdo%252Bmorro%252Bda%252BRocinha-Luis%252BPrado.jpg&xm=h&xv=sa1.37.01&xuid=mvTkdG40ug6_&description=" style="background-color: transparent; background-image: url(data:image/png; border: none; cursor: pointer; display: none; height: 20px; left: 127px; opacity: 0.85; position: absolute; top: 545px; width: 40px; z-index: 8675309;"></a><a href="http://br.pinterest.com/pin/create/extension/?url=https%3A%2F%2Fdraft.blogger.com%2Fblogger.g%3FblogID%3D4192609907234412654%23editor%2Ftarget%3Dpost%3BpostID%3D3063308925411180872%3BonPublishedMenu%3Dposts%3BonClosedMenu%3Dposts%3BpostNum%3D0%3Bsrc%3Dlink&media=https%3A%2F%2F1.bp.blogspot.com%2F-J-r7lMfxGjQ%2FVrPPsbLSP1I%2FAAAAAAAAa0c%2F7tvs7UbTY98%2Fs1600%2FJanela%252Bdo%252Bmorro%252Bda%252BRocinha-Luis%252BPrado.jpg&xm=h&xv=sa1.37.01&xuid=mvTkdG40ug6_&description=" style="background-color: transparent; background-image: url(data:image/png; border: none; cursor: pointer; display: none; height: 20px; left: 127px; opacity: 0.85; position: absolute; top: 545px; width: 40px; z-index: 8675309;"></a><br />
<script src="safari-extension://com.ebay.safari.myebaymanager-QYHMMGCMJR/f771be1/background/helpers/prefilterHelper.js" type="text/javascript"></script></span>Carla Castro Maiahttp://www.blogger.com/profile/02622049595390979907noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4192609907234412654.post-60528231928135950292015-07-24T04:43:00.000-07:002016-10-16T18:22:21.924-07:00Urtigão e Júlio Cézar<h1 align="center" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 0cm;">
</h1>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-lNsZ1EJ6VWE/VrZB2JRotKI/AAAAAAAAa1g/OsJKr3rESqs/s1600/Urtiga%25CC%2583oEJC.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://2.bp.blogspot.com/-lNsZ1EJ6VWE/VrZB2JRotKI/AAAAAAAAa1g/OsJKr3rESqs/s320/Urtiga%25CC%2583oEJC.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: 18.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">U</span>rtigão pertence àquela camada mínima de bravos, que ao invés de culparem a vida e a má sorte, foram à luta, desbravando caminhos, desviando-se do infortúnio, driblando o destino. Criado no sítio, quarta geração, até onde sabia, de miserável família de sitiantes, originária não sabe de onde nem de quê, suspeitava que um pouco de todo o lado e de tudo, negro, índio, português, italiano..., iniciou na labuta muito cedo –, sete anos.</span><br />
<a name='more'></a><o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyText">
<a href="https://draft.blogger.com/blogger.g?blogID=4192609907234412654" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"></a><a href="https://draft.blogger.com/blogger.g?blogID=4192609907234412654" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"></a><a href="https://draft.blogger.com/blogger.g?blogID=4192609907234412654" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"></a><a href="https://draft.blogger.com/blogger.g?blogID=4192609907234412654" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"></a><span style="text-align: justify;"><br />
</span> <span style="font-family: inherit; text-align: justify;">Agora nem Urtigão ele é mais.</span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">A criança franzina e maltrapilha sentada na traseira da carroça que gritava pelas ruas de Frutal: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Abacaxi!</i> Olha<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> o abacaxi!</i>” transformou-se no importante e solicitado Vasconcelos de Albuquerque. Pois é! O infeliz nome escondia pomposo e surpreendente sobrenome. Tudo em Urtigão, ou melhor,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Dr. Albuquerque, diretor do sindicato dos metalúrgicos, transpira prosperidade – o andar aprumado, a barriga proeminente, ternos e camisas cortados sob medida e dispendioso charuto na mão.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Era o ano de 1995 e naquele dia, uma quarta-feira ensolarada, Dr. Albuquerque afastou-se da janela eufórico, a papada reluzente, aproximou-se da mesa, discou um número, deixou-se cair na cadeira e tamborilou com os dedos no tampo. Ele ligava para um importante jornal e aguardava seu amigo Júlio Cézar. Foi logo dando a novidade. Conseguira a tão esperada verba para contratar um editor. “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pensei em você, JC</i>.” Do outro lado da linha, silêncio, depois... “S<i style="mso-bidi-font-style: normal;">ei, sei. Você é muito ocupado, entendo, mas 'véi' tou precisando de alguém com seu calibre. Não, não precisa responder agora. Mas então e a patroa como vai? ... O quê? Ah, o salário? Nããão, não é de se jogar fora, nem pra você, meu amigo!</i>” ... “Não<i style="mso-bidi-font-style: normal;">, não! Pelo contrário, não vai alterar nada de sua rotina. Depois, pra um expert como você, o trabalho vai ser... nada</i>”. Júlio César cofia o bigode. Sua educação refinada ofende-se com o “patroa”, o “véi” mas... é caso para se pensar... Urtigão é bem relacionado, amigo de políticos. Só cego para não ver que os dólares chovem no bolso do ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">sitiante</i>’ e com uma renda choruda a mais, poderia dar o tão ambicionado presente que Maria Luísa almejava. Ela iria ficar um bom tempo sem pegar no seu pé. Quando ele surgiu com a BMW preta, ficou felicíssima até descobrir que não era para ela. Agora se ela ganhar a sua própria vai ficar mansinha, mansinha. Suas escapadas noturnas poderão seguir sem atropelos. Claro que ninguém precisa saber que vai trabalhar num “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">antro</i>”. Júlio César hesita, ainda cofiando o bigode, pensa... Urtigão assobia em seu ouvido a quantia e na hora ele aceita. Desliga o telefone, cantarola “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">If I was a rich man...”</i> , entra na internet e vai direto ao <i style="mso-bidi-font-style: normal;">site</i> da BMW. Maria Luísa adora amarelo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Júlio César é homem de megalópole. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Nascido e criado em São Paulo, sempre viveu no luxo. Viajado e manjado na boa educação, fala bonito. Nem sabe o que são dificuldades. Filho de alto industrial, foi o único dos irmãos que não aportou nas empresas de “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">papai</i>”. Desde cedo sentiu fascínio pelo jornalismo. Seu sonho era abrir um dos grandes jornais do país e lá ver seu nome. Fora tudo muito fácil. O meio em que circulava permitia-lhe conhecer estrelas de muitas áreas. Recebeu convites para aparecer nas redações. Um dia faltou à faculdade e foi direto a um grande jornal. Naquele horário não achou ninguém conhecido. Seguiu em frente. Foi levado à presença de um tal de Américo, um redator. Escutou um grande discurso sobre a<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>legislação que rege a prática do jornalismo, normas do jornal, manual de redação... Enfim, preencheu uma ficha. Firme e eloqüente, aproveitou bem o espaço. Logo estava em frente ao editor-chefe. Este falava ao telefone. Algo sobre corrida de cavalos e apostas. Quando o homem desligou, Júlio César falou que seu pai era também aficionado por cavalos, tanto que até comprara um haras, onde possuía bela coleção de puro-sangue. </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Até hoje Júlio César conta essa história. Na faculdade, passou a ser invejado e admirado por sua audácia e boa estrela. Tornou-se mais popular do que já era. Todos queriam uma vaga no seu rol de amigos chegados, inclusive os pedantes do curso de Marketing. De lá para cá sua estrela não deixou de brilhar. </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Júlio César entra na sala de Urtigão. “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">JC! Elegante como sempre, meu amigo.</i>”, “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Que é isso, Pázinha! Você também está muito bem</i>”. Os dois amigos se tratam como nos velhos tempos. Ambos os tipos faziam sucesso na faculdade. As meninas achavam másculo aquele rapagão alto e peludão com modos de taberneiro e suspiravam pelo charmoso riquinho. Foi no refeitório da faculdade que surgiu o apelido. A cota era igual para todo o mundo, mas para Urtigão nunca foi suficiente. Ele raspava o prato e depois com voz chorosa pedia “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mais uma pázinha, só mais uma pázinha!</i>”. </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
Quando Júlio César passou para o curso noturno logo percebeu que se quisesse terminar a faculdade sem atropelos, deveria entrar para o grupo de trabalho do Urtigão. Afinal, agora, além da faculdade e das farras tinha seu trabalho no jornal. Já Urtigão, acostumado a muito trabalho para pagar a faculdade, o único dia da semana em que se permitia farrear era o sábado, com sua vizinha, assim que a turma esvaziava o AP que dividia. Marcela era uma fogosa baixinha, de pele tão branca que Urtigão divertia-se em acompanhar cada veia, com o indicador, como se de uma trilha de mapa se tratasse. Claro que dependendo onde a trilha parasse, a brincadeira podia esquentar muito. Marcela ficava tão doida que paralelamente a seus gritos “<i>Ai Tigão... ai Tigão...</i>” escutava-se batidas de cabo de vassoura vindas de baixo acompanhadas de gritos de gente indignada “<i>Vai pro motel, que aqui tem família</i>”, já de cima era uma claque entusiasmada. No final, os arrulhos de felicidade de Marcela eram seguidos de um vozerio entusiasmado “<i>Aí, Tigão!</i>”. Apaixonado pela vida, Urtigão estava disposto a ir ao inferno pra pegar o que dela queria. Sempre fora excelente aluno. Sua inteligência e interesse foram estimulados por Tia Adelaide, a professorinha lá do sítio, que sempre soubera que “Tigão” iria longe. Na maioria das vezes a refeição que fazia no refeitório da faculdade no final da tarde, era a única do dia, o que explicava o apetite. Era também o horário em que seu grupo se reunia para fazer os trabalhos. Por vezes JC nem aparecia, mas ninguém fazia caso. Afinal o colega rico os levava a lugares que nem sonhariam, instigando a vontade de Urtigão em ser importante um dia. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<br />
Após colocarem as novidades em dia, Urtigão passa uma tarefa a Júlio César. Tratava-se de escrever um artigo sobre <span style="font-family: inherit;">“</span><i style="font-family: inherit;">essa história de fusões e aquisições de empresas</i><span style="font-family: inherit;">”</span><span style="font-family: inherit;">, “</span><i style="font-family: inherit;">Só pra sossegar o povo. Você conhece o pesadelo do trabalhador. Dá uma caprichada, e olha, não esquece que a política aqui é agradar todo o mundo, patrão e empregado.</i><span style="font-family: inherit;">”</span><span style="font-family: inherit;"> </span></div>
<br />
<span style="text-align: justify;">Dias depois os dois encontram-se novamente na sala de Urtigão que oferece o Whisky e o charuto de sempre. Ele pergunta para Júlio César da saúde da “</span><i style="text-align: justify;">patroa</i><span style="text-align: justify;">” e dos “</span><i style="text-align: justify;">pirralhos</i><span style="text-align: justify;">”. Júlio César responde educado, escondendo atrás de um sorriso o desagrado por aquele palavreado. Urtigão, também todo sorrisos, saboreando gostosas baforadas do charuto, presentão carinhoso do amigo Lula, com toda a psicologia adquirida no meio em que foi criado, empurra uns papéis para JC e fala: “</span><i style="text-align: justify;">Estive lendo seu texto. Está muito bom, como sempre, ah...ah...ah, para os leitores do seu jornal, mas aqui, JC, a coisa é bem diferente. Risquei bastante coisa, pode cortar metade. Precisa ser curto e grosso. Nossos leitores são operários, não entendem palavras bonitas. Nada de ‘economês’ nem ‘sociologuês’. Trabalho para eles é trampo, dinheiro é grana, dólar aqui não existe. Meu amigo, volte para sua sala e chame o Airtom. Escrever ele não sabe direito, mas de ‘operariês’ ele entende muito.</i><span style="text-align: justify;">”</span><br />
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Eis-nos perante um Júlio César humilhado, vermelho até a raiz dos cabelos, segurando-se para não pular na papada lustrosa do Urtigão. Tudo em nome da boa educação e da prestação da BMW de Maria Luisa. <span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span><o:p></o:p><br />
<span style="mso-tab-count: 1;"><br />
</span> <br />
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<span style="mso-tab-count: 1;"><b>♧♧♧</b></span></div>
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<a href="https://draft.blogger.com/blogger.g?blogID=4192609907234412654" style="background-color: transparent; background-image: url(data:image/png; border: none; cursor: pointer; display: none; height: 20px; opacity: 0.85; position: absolute; width: 40px; z-index: 8675309;"></a><a href="https://draft.blogger.com/blogger.g?blogID=4192609907234412654" style="background-color: transparent; background-image: url(data:image/png; border: none; cursor: pointer; display: none; height: 20px; opacity: 0.85; position: absolute; width: 40px; z-index: 8675309;"></a>Carla Castro Maiahttp://www.blogger.com/profile/02622049595390979907noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4192609907234412654.post-2378854990494092892014-09-10T05:32:00.000-07:002016-10-16T18:23:00.865-07:00Seu Vicente e D. Benê<div class="MsoBodyText">
<div style="text-align: justify;">
<div class="MsoBodyText">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-mF0bAl75xx0/VrZPsdga7kI/AAAAAAAAa1w/kvc0m4FIBz4/s1600/SeuVicenteDBene%2Bcopy.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="290" src="https://1.bp.blogspot.com/-mF0bAl75xx0/VrZPsdga7kI/AAAAAAAAa1w/kvc0m4FIBz4/s320/SeuVicenteDBene%2Bcopy.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-size: 18.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">A</span>os 58 anos, seu Vicente é até bem parecido. Estatura média, magro, bem trajado, feições finas, bigodinho, cabelo liso pintado de castanho, sempre impecavelmente penteado. Os ombros levemente curvados, e lá circula ele. Simpático, cumprimenta todo o mundo no prédio. Cavalheiro, corre solícito para ajudar alguém a carregar as compras ou abrir a porta do elevador.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Atenções que suscitam risinhos faceiros e aprumos nas senhoras do condomínio. Seu Vicente adora sentar-se na sala da portaria pra ler o jornal. Dessa forma, foi formando um circulo de amigos interessados em escutar e contar as ‘últimas’ do condomínio. Claro que seu Vicente tem sempre seu momento pra discursar sobre seus conhecimentos. Bem falante, carismático, sua panca de homem sério e letrado, suscita admiração na vizinhança, sobretudo em meio às senhoras.</span></div>
<a name='more'></a><o:p></o:p><br />
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 12pt;">Mas como todo o mundo, seu Vicente tem seus problemas. Secretamente, ele acha que o pior deles é sua esposa, D. Benê, com sua mania de grandeza e vaidades exageradas, vindas de uma fixação doentia de que descende da alta nobreza. Por causa disso, usara farta e inutilmente o dinheiro com detetives particulares para acharem as tais das nobres origens. Depois de muito desperdiçar as sobras da alta da laranja, surgira até um brasão, orgulhosamente pendurado na parede da sala de visitas. Outro grande problema, é que tais grandezas os afundaram mais depressa numa dureza embaraçosa. A grande fartura do passado restringira-se a minguada pensão no presente, que mal cobria as despesas. Viviam num apartamento enorme, necessitando de reforma. Quisera seu Vicente vender e trocar por algo bem menor, mas o diabo da mulher não queria nem ouvir falar. E seu Vicente além de passar a vida, a desculpar-se</span><span style="font-size: 12pt;"> </span><span style="font-size: 12pt;">com a vizinhança por tanta antipatia da esposa, ainda tem que amargar muitas necessidades e segredos.</span><span style="font-size: 12pt;"> </span><span style="font-size: 12pt;">Sim, segredos, pois não é que até seu trabalho precisa esconder pra não ofender os orgulhos de Madame Benê? Bem, claro que o tal trabalho não é lá muito católico, mas “</span><i style="font-size: 12pt;">pomba</i><span style="font-size: 12pt;">s”, é um trabalho. </span><br />
<span style="font-size: 12pt;"><br />
</span> <span style="font-size: 12pt;">Verdade seja dita que Benê tem seus méritos. Um deles é o faro para negócios. Não é que tão</span><span style="font-size: 12pt;"> </span><span style="font-size: 12pt;">recatada senhora tivera a idéia brilhante de vender artigos eróticos? Tornaram-se até conhecidos, ou melhor seu telefone, um outro número do qual ninguém tem conhecimento. Nada de dar nome aos bois. O cliente faz o pedido e em pouco tempo o produto é entregue. D. Benê tornou-se </span><i style="font-size: 12pt;">expert</i><span style="font-size: 12pt;"> em produtos eróticos. Aprendeu o nome de tudo e sua utilidade. No início seu Vicente ficara boquiaberto, mas depois até que passara a achar graça em ver sua Benê, que tinha tanto cuidado com as palavras, pronunciar tais termos, faceta que ele desconhecia.</span></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Mas seu Vicente tem suas fraquezas. A maior delas? Mulheres! Grandes, fortinhas e de preferência, peitudas. Quanto mais peitudas, mais o olhar dele cresce e brilha. Não é de bobeira que D. Benê trata com a maior antipatia a síndica, D. Linda, uma loiraça de quem ninguém sabe ao certo a idade. Quando as duas se encontram na portaria, parecem medir o tamanho uma da outra, ou melhor, dos peitos. É uma guerra fria, silenciosa, as armas são olhares e esgares venenosos. No dia em que uma ultrapassar a linha, a guerra estará declarada. Seu Vicente trata de desvanecer qualquer suspeita que D. Benê possa ter. Para isso tem seus truques e afinal, ninguém conhece tão bem a fera. Em casa enche-a de agrados. Fala à sua vaidade. Pespega-lhe uns beliscões carinhosos e matreiros e umas palmadas, com gosto de safadeza, no traseiro. D. Benê derrete-se em risinhos histéricos e durante uns dias é tudo amor e docinhos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Mas nada de julgamentos quanto às carências e imperfeições de D. Benê. Com porte orgulhoso,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>autoritária, modos e estilo antiquados, D. Benê é mulher de muitas vaidades. Às expensas de sua índole desagradável, tem lá seus encantos, já que de gostos no mundo tem de tudo um pouco. Cabelos platinados, enrolados em complicado coque preso com grampos, D. Benê é um monumento em imponência e tamanho. Com genuíno e farto colo, encaixado, a muito custo, em fenomenal sutiã tamanho 52, quando entra no elevador, três pessoas já ficam apertadas. Os homens receosos de nela tocar, espremem-se pelos cantos. Podem até pisar o pé um do outro mas tocar em D. Benê nem pensar. E ela que nem parece perceber os embaraços que causa, segue altiva, destilando e colhendo antipatias. Usa apenas saias, que em seu entender deixa a mulher mais elegante. Saias compridas, claro, como requer uma senhora. O que ninguém sabe é que D. Benê, sofre de calores infernais e sem que ninguém perceba, pelo menos assim ela pensa, vive agitando as saias, gesto que virou cacoete. Quando não tem ninguém por perto então, ela aproveita e os leves agitos viram sacudidas generosas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">E as jóias? Ah, as jóias... “Infelizmente“ só resta uma -, a aliança de sua mãe. Claro que qualquer ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">biju’</i> usada por D. Benê vira jóia. Até porque certas palavras ela sequer pronuncia. Detesta tudo o que é comum, popular, trivial. Agora mais desagradável que o porte empertigado de D. Benê é sua voz. Um timbre desagradável que alguns moradores bem humorados compararam ao pio de uma gralha. O comentário que virara piada, chegou aos ouvidos da criançada e alguns garotos mais assanhadinhos, quando vêem D. Benê, colocam as mãos em concha junto à boca, e cantarolam com voz esganiçada “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">bruá, bruá, bruaca..</i>.”. Ninguém sabe se D. Benê percebe que a brincadeira é com ela. Passa impassível, por vezes olha com desprezo e comenta com cara de nojo: ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">gentinha</i>’.<o:p></o:p></span></div>
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<br /></div>
<div class="MsoBodyText2">
<a href="https://draft.blogger.com/blogger.g?blogID=4192609907234412654" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"></a><a href="https://draft.blogger.com/blogger.g?blogID=4192609907234412654" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"></a>Mas apesar de toda a fortaleza, D. Benê tem também suas fragilidades. Uma é o filho, Huguinho, que vive nos EUA, o chuchu e orgulho da mamãe. Ela adora alardear os dotes de Huguinho. Huguinho sabe e tem resposta para tudo “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">E porque se Huguinho aqui estivesse...</i> “, “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Porque Huguinho precisa saber...”.</i> Certo é que D. Benê enxerga demais em todos os assuntos e nos outros, mas no que se refere a Huguinho, a sua cegueira é total. Outro ponto sensível é a falta de dinheiro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyText2">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText2">
Nos últimos tempos vem levando uma vida difícil, um dinheiro magro, obrigando à vida dupla. No íntimo D. Benê sabe que podia estar melhor de vida, não fossem os excessos com a educação de Huguinho, as vaidades exageradas de querer viver e ostentar o que não tem e o que não pode, como seu Vicente vive falando. Ainda assim, D. Benê pensa: ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">As idéias de girice que esse homem tem’</i>. Imaginem vender seu apartamento?! Sim, ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">seu</i>’, porque com D. Benê tudo era ‘meu’, não tinha cá essa de nosso. Afinal se dependesse de seu Vicente, não teria é nada. Tudo ele queria vender. Pois não tinha ele vendido até seus cristais, dos quais ela guarda religiosamente quatro taças, trancafiadas a sete chaves na gaveta da velha cristaleira? Depois se naquele condomínio, que não é para qualquer bolso, tinha que agüentar uma vizinhança grosseira e alcoviteira, o que não agüentaria vivendo em um “muquifo” de quarto e sala? Mas felizmente sua fé é grande e as coisas estavam se recompondo. As contas iam sendo pagas. Os ‘negócios’ estavam encaminhados. Começava a ser conhecida, ou melhor, seu telefone. Deus a livre de alguém descobrir. Mas, para D. Benê, o segredo está bem escondido. Imaginem se Huguinho a ouvisse pronunciar aquelas ‘palavras’? Sentia o rosto em brasa só de pensar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyText2">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText2">
No momento D. Benê está maquinando outra coisa. Tem os olhos voltados para o cargo de síndica. Sabe que a tal da D. Linda ‘<i style="mso-bidi-font-style: normal;">e isso lá é nome?’ </i>sempre vence as eleições porque nunca tem candidatos. Porque não ela? Tudo se resume a estratégia e inteligência. A tal da D. Linda e sua irmã retardada, a vice, não serão páreo para ela. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyText2">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText2">
E lá seguem os dois a vida, seu Vicente e D. Benê.<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<a href="http://4.bp.blogspot.com/-BfgoDFwQxxk/VBBBAm4qQaI/AAAAAAAADfY/AfobmWdaGCE/s1600/Politica_na%CC%83o%2Bbasta%2Bter%2Bhistoria.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-BfgoDFwQxxk/VBBBAm4qQaI/AAAAAAAADfY/AfobmWdaGCE/s1600/Politica_na%CC%83o%2Bbasta%2Bter%2Bhistoria.png" /></a></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
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</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<span style="font-size: 18.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">A</span>os 70 anos, Dona Maria era uma mulher realizada. Fizera um bom casamento, claro não era o príncipe encantado, longe disso. No seu homem tudo era pequeno, começando pelo cérebro. Ainda assim não tinha por que se queixar. Afinal o que poderia esperar do futuro uma simples doméstica?<br />
<a name='more'></a></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<br />
Mal aprendera a ler e escrever.<br />
Na sua época, mulher pobre só saia de casa casada. A ela, faltou-lhe o pretendente, e o pai, receoso de ter que sustentar a filha solteirona, tratou de arrumar-lhe um emprego em uma casa de família que funcionava como pensão. Frequentou as aulas de alfabetização na igreja. Nesse contexto, ela se achava agraciada. A sorte poderia ser outra. Bem sabia que se o cérebro do marido não funcionasse em marcha tão lenta, seguiria como mera doméstica e solteirona pelo resto da vida. Assim deixara de ser simplesmente Maria, para virar dona. Claro que foram necessários anos para que tal acontecesse, já que casar com o filho da patroa em nada alterou o seu status.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Fora a tia dele quem arrumara o casamento.<br />
Afinal, um retardado na família era sempre problemático. Então, mais que lamentar, tinha é que agradecer o cérebro de galinha do homem. A esperteza dela valera pelos dois e com o tempo aprendera até a gostar do atrasadinho. Era como um cachorrinho esperando alguém passar-lhe a mão no pelo e oferecer-lhe um osso.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Até hoje bastava acenar que ele vinha correndo. Houve um tempo em que ela até esperava que ele fizesse auau. Desconfiava muito que se lhe achegasse a mão à boca ele a lamberia docilmente. Por certo que nem assim foram tudo rosas. Ao longo da vida, além da labuta brava, uns odores de cio nas redondezas chegaram a desviar as atenções da fidelidade canina. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A dureza começara logo no início do casamento.<br />
Morando na casa da sogra, tivera que amargar com os modos secos e autoritários da italiana, tendo, ao mesmo tempo, que seguir sendo tratada como a Maria. Passou anos remoendo o ódio, aguardando o dia da vingança. Nos filhos vislumbrou a desforra. Era uma satisfação muito particular perceber neles o mesmo desprezo, a mesma revolta por uma avó a quem só respeitavam para contentar o pai. Mas mordia-se de raiva quando via o marido abanar a cauda de felicidade para aquele traste a quem chamava de mãe. Ah, como ela se pagava pintando, desde muito cedo, um quadro bem negro na cabeça das crianças, dos sofrimentos que a 'velha' lhe imputara. No início, a mente infantil associava a avó aos monstros folclóricos que povoam o universo das crianças. Depois era apenas alguém que não tinham, não queriam, não podiam, nem deviam gostar. O jeito autoritário da 'velha' alimentava a fama. Cresceram escutando sua mãe falar-lhes que a velha era bicho ruim, humilhara a mãe deles, tratando-a como se ela nunca tivesse deixado de ser a doméstica da casa. Nunca, mas nunca, os deixou esquecer tal coisa. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E no final, Deus fizera a sua parte.<br />
Os modos ríspidos e a voz autoritária eram como o barulho de um velho pano sendo rasgado em trapos. Ninguém mais se incomodava com os modos secos do raio da velha. Ainda assim, durara até demais. Mas o que fazer? Se, por um lado, o filho nascera com a inteligência de uma estúpida mula, a mãe, apesar de magricela e seca, parecia ter adquirido a robustez do mesmo bicho, sendo até boa de coice. E, precisava admitir, "<i>o bicho ruim</i>" era mais esperta e espevitada do que ela própria e o marido juntos. Mas não há inteligência nem esperteza, que escape à ira divina.<br />
<br />
Uma trombose lhe levara a perna.<br />
Ah, como ela rira interiormente da mula manca, como passou a chamá-la na socapa. Depois foi só ficar olhando a morte cercar a velha. A pele macilenta no rosto enrugado, o olhar azul se apagando, até que chegou a hora. “<i>Bem feito, aqui se faz, aqui se paga</i>”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O melhor da história foi ver a própria família dela comentar a boca baixa como a Maria era boazinha, cuidara tão bem da “<i>mamma</i>”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ainda por cima virou heroína. “<i>Engole mais essa, bruxa velha!</i>” Pensando bem, àquela altura, começava a achar-se mais sabida e muito melhor de coice. Sabido era que quem a cara escancara, logo vira bicho ruim na boca do povo. Assim foi que, em torno da italiana brava, era só desamor. Pessoa que a agastasse levava logo o coice na cara dura. Sem mimimi nem mememe. Já ela, Maria, fora sempre pessoa boa, com a merecida fama. Aprendera, pelo menos, uma coisa com a estúpida velha -, quem ‟amostra a venta se agasta". <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Todo o dia agradecia a Deus por ter caído nas Suas graças.<br />
Oh, sim! Em tudo, na sua vida, sentira a mão do Altíssimo. Ninguém melhor do que Ele para saber o quanto merecia as graças. Mais fiel que ela... Ia aos cultos, não sempre, mas Deus e o Pastor bem viam o sacrifício que fazia para arrastar a gordura pelas duas quadras que da igreja a separavam. Os filhos? Uns pintinhos. Modéstia à parte, educara-os muito bem, sempre lhes lembrando o sacrifício que por eles fizera. A mais velha, Mara, ajudara-a a criar os irmãos e, até hoje via, na maior alegria, o sacrifício que aquela filha continuava fazendo por eles. Tudo bem que teve uma fase de assanhamento e acabou casando prenha. Mas, se vez ou outra, Deus lhe pregava um susto, logo a compensava em cascatas de graças. O genro se revelou uma jóia. Nunca meteu o bico em nada. Aquela filha era o sonho de toda a mãe. Era seu anjo da guarda. Como uma secretária particular que de tudo cuidava. Ia pra cá e pra lá. Chofer, enfermeira, cozinheira. Tudo ela fazia pelo conforto dos pais. Renunciava até mesmo, aos próprios prazeres, assim quando o marido e os filhos iam se divertir ficava ela em casa, entendendo que sua parte dos custos deveria usar para os pais. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Agora a outra filha merecia um capítulo destacado.<br />
Não havia porque esconder a preferência. Nascera ela com a esperteza da mãe. Fizera um bom casamento. Essa sim, sonhara alto, programara bem a vida para saber aproveitar a hora. Se enfiou debaixo do homem certo, antes que escapulisse como os outros, afinal a concorrência era farta. Embuchada logo casou, entrando para uma família bem posicionada. Oh, sim, essa é que foi esperta. Um tamanhão de homem bem domesticado. Um tipo daqueles precisando de empurrão para sair do lugar. Naquela casa quem cantava de galo era a sua menina. E como gostava de visitar aquela filha. Ali se regalava de tudo o que vira em sonho. Era tratada como grande dama. Chamava a empregada a toda a hora. Como era bom mandar e desmandar. Quando, por sua vez, a visitava a filha, gostava de exibir-se pra vizinhança, mostrar a sua importância. Alegravam-na os olhares invejosos, fazendo-se<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>de modesta com os elogios que recebia. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Colocava cadeiras na calçada e ali ficava com o seu velho.<br />
Via a vizinhança apreciando e avaliando os belos carros dos filhos. Tinham ido longe, pelo menos três deles. O melhor de tudo é que lhe devolviam o sacrifício. Afinal colocara-os no mundo, trabalhara para eles, ensinou-os a dar o couro bem cedo, para que fossem alguém na vida e devolverem aos velhos pais a vida por eles sacrificada. Completados os sete anos, colocara-os logo na labuta para que sentissem o gasto do próprio couro e darem valor à velha mãe. Graças a Deus, suas crianças aprenderam bem os ensinamentos. Cedo começaram a<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ajudar os pais e logo eles puderam se aposentar. Claro que não pelo governo, imagina se tivesse trabalhado tanto, estariam doentes e estropiados. Tiveram a sorte que muitos não tinham, mas isso tudo porque ela os soube educar, pela graça do Senhor Jesus. Claro que tinha um deles que havia tido a má sorte de nascer com o cérebro vazio do pai. Mas os outros compensavam, e muito, o buraco. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sempre fizera vista grossa aos olhares de cachorro louco do marido em cima das moças.<br />
Quem ia querer se oferecer para um velho babão e ainda por cima, retardado? Com a idade, o velho foi piorando e logo estava passando a mão em crianças de tenra idade. Foi uma época conturbada em que nem as filhas levavam as netas com receio que o avô, tomado pela doideira, cometesse um sacrilégio. Deu o que falar, na família e na vizinhança. Os filhos vieram correndo. Depois de muita conversa, concluíram que o pai precisava de ocupação. Fizeram obras na casa e logo o velho tinha o seu brinquedo, um mercadinho. A vizinhança vinha inteira comprar do velho “Lelé″. Lucro mesmo não tinha, desconfiava que nem pra pagar as despesas. Tudo saia da verba choruda que dois dos filhos enviavam religiosamente todo o santo mês. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A caderneta onde o velho anotava as despesas dos clientes virara piada.<br />
Era só se aproximar o final do mês e p<i>uft</i>, sumia. O velho ficava com aquele olhar abobado, aquela fala titubeante de quem não consegue falar e pensar ao mesmo tempo. Se sentindo a boba do bairro, Dona Maria tratou de ficar de tocaia. Foi quando viu a jogada. Uma garota, de tenros 11 anos, se tanto, fazendo olhares lânguidos. O bobo do velho, dava tapinhas na mão miúda, enquanto olhava o peito murcho e impúbere. Nisso, surge um garoto de olhar vivo e surrupia do balcão o caderno. Com toda a agilidade que lhe permitiu o corpo balofo, Dona Maria saiu das sombras, o descarado ainda gritou da porta com ar de troça “<i>Obrigado, seu Lelé</i>!”. A garota puxou a mão, passando-a com ar de nojo no <i>short, </i>se despedindo. Dona Maria inconformada com a safadeza saiu de trás do balcão e conseguiu agarrar-lhe o braço. Foi um susto daqueles, para a garota e para o velho. A assanhadinha logo se recompôs, já o velho não sabia o que fazer de tão atrapalhado. Dona Maria perguntou à garota se a mãe estava sabendo das assanhadices. Sem se perturbar, a pestinha puxou o braço e respondeu altivamente (ou seria em ar de troça?) “<i>Não, minha mãe ainda não sabe que seu Lelé fica me oferecendo bala pra eu ficar atrás do balcão com ele.”</i> Saiu em seguida pisando forte. Dona Maria quase desfaleceu. Precisou sentar-se logo, pois não fazia muito tempo tivera um enfarte, levinho, só um aviso, mas valera como susto e agora ali estava de novo quase perdendo o ar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A partir daquele dia, inventou de fazer crochê abancada junto à porta.<br />
Olhava de soslaio para todos que ali entravam. Percebeu olhares cúmplices, espantados e decepcionados e não foi só de criança. Desta vez não chamaria os filhos. Já lhe bastara a vergonha que passara por ter que dividir tal segredo com os trastes das noras. E por falar em nora...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ainda hoje se lembrava do susto.<br />
Foi o dia em que seu caçula surgira com o papo de casamento, trazendo a tiracolo uma sirigaita com ares de princesa. Mas em pouco tempo lhe mostrara que ali não era lugar da realeza. De tudo fizera para que a “<i>tarzinha</i>” se pusesse a milhas, mas a cadelinha não quis saber de largar o osso. Mais uma vez lhe valera a educação que dera a sua trupe, e a mão de Deus. Ela bem sabia que era uma das poucas escolhidas Dele. Quanto àquelas noras tinha certeza que não estavam nem na lista dos chamados. Umas inúteis vivendo nas costas dos seus meninos. Achara por bem recordar aos dois que os pais aguardavam o retorno do sacrifício antes que aquelas lambisgóias se atrevessem a tomar o seu lugar. Tudo bem que daquele de inteligência fraca, nada podia esperar, até porque o coitado não tinha culpa. Bem feito para a inútil que pensou que fizera grande feito. Graças a Deus lhe tirara tamanho peso de casa. Agora o outro, o caçula, daquele sim, esperara muitos frutos e não se decepcionara. <o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Achava sempre necessário recordar ao filho, o quanto penara para o colocar no mundo.<br />
Hum, imaginem se algum rabo de saias iria alterar seus planos. Bem que a serigaita às vezes fazia um draminha. Queixava-se da falta de dinheiro, das dívidas, da vida parada, que nunca havia dinheiro para uma viagem, um restaurante... as crianças queriam as coisas mas o pai só sabia resmungar de tanta despesa. “Imaginem! ‘A<i>proveitar a vida! Pode?’</i>, <i>INÚTIL</i>”. Fosse trabalhar, educasse melhor os filhos, pois ela nunca dera moleza aos seus. O que sairia dali? Uns vagabundinhos iguais à mãe! O filho que se cuidasse, que abrisse os olhos! “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Trabalhando aquele tanto...</i>”, a filha já havia insinuado que o irmão trabalhava demais, corria até o risco de...<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Dona Maria interrompeu o pensamento assustada. “<i>Deus nos livre, a mim e ao velho de tal coisa! Depois de tanto sacrifício, uma zinha qualquer fazer o seu filho trabalhar feito asno, pra lhe satisfazer os caprichos. Havia que falar urgentemente com ela, abrir os olhos da anta. "Ai se eu te pego!</i>”. Se pudesse esganava a mulherzinha! Não é que a lambisgóia vivia tentando atrapalhá-la?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Primeiro fora a lojinha do velho.<br />
Falara que aquilo era loucura, “<i>insanidade da família, </i><i>querer tapar o sol com a peneira”</i>. Ela bem que escutara a conversa entre o casal. A lambisgóia enchia os ouvidos do filho ...que ele não tinha o direito de “tirar dos próprios filhos” para jogar pela descarga tanto dinheiro, só pra encobrir a maluquice do pai. Era bem seu filho. Ele dera-lhe uns tapinhas, o sorrisinho maroto no canto da boca, assobiara-lhe algo ao ouvido e depois, nas costas dela, seguira os conselhos da mãe. Claro que Dona Maria tinha gosto em mostrar que seus filhos eram uns pintinhos. Bicavam na mão dela. Adorava ver a nora se morder por dentro, quando jogava umas indiretas pra ela entender que a vida do filho era ela, sua mãe, quem controlava. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E outra vez a danada inventou de enfiar o bico.<br />
Foi quando Dona Maria, ressabiada porque soubera que a cunhada tinha um plano de saúde “tão bão”, passara a comentar com a filha, a sorte da Rosinha, que ganhara dos filhos plano de saúde com quarto particular. Vivia comentando e suspirando. A frase decisiva foi quando falou fazendo drama, “<i>Já imaginou, seu pai e eu, velhos desse jeito, podendo dar um treco a qualquer hora? Como vai ser? Até agora foi coisa a toa mas daqui pra frente, o plano que tinham não parecia essas coisas... 'quarto coletivo'..., Imagina!", </i>fazia cara de medo, levando a mão ao peito... Não deu outra. Seus dois filhos abastados, logo colocaram a irmã mais velha em campo para ver o tal plano de saúde antes que a mãe tivesse um treco. Dona Maria conhecia bem a filha que tinha. A palavra e a expressão certas e pronto, sofá novo, máquina de lavar roupa, as obras na casa... nada, não havia nada que eles não lhe dessem. “<i>Filhos bãos são os meus</i>” dizia. Mas aí, eis que aparece a sirigaita falando no ouvido do filho “<i>Que estava cansada de a toda a hora ele falar que não tinha dinheiro, mas pros caprichos dos pais, até dívida arrumava. Será que ele não percebia o egoísmo e a chantagem da sua mãe?</i>” Mais uma queda de braço no papo. Sorte daquela zinha seu filho ter puxado à mãe, ser um homem “bão”. Mas tinha hora que desejava que seu filho fosse mais enérgico e lhe espetasse uns belos sopapos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas os caprichos de Dona Maria não tinham fim.<br />
Eis que vem o convite para as bodas de casamento de sua cunhada. Dona Maria se mordeu e remoeu de inveja. Não parava de comentar a sorte da comadre. Os filhos não deram um simples presente, não, dizia. Aquilo era como mostrar pra todo o mundo a importância de uma mãe. "Um sonho! Era o que era. O sonho de toda a mãe." E lá foi ela assobiar no ouvido da filha todo o dia. Aquele teatro! Nunca mostrando que estava pedindo. Ela conhecia bem seus filhos. Para a mais velha, era só mostrar de forma inocente a felicidade que seria satisfazer tal desejo. A filha achando que tivera uma grande idéia para o presente do dia das mães, tratara de ligar para os irmãos abonados o gosto da mãe.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Assim, foi com fingida surpresa que seus filhos lhe deram as boas novas. Os outros vieram de longe. E a cara de estúpida da nora? Conseguira até sentir um pingo de pena. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas à noite quando a zinha jogou na cara do seu filho que “seus pais vivem no sítio do Pica-pau Amarelo e você devia trazê-los pra realidade, falar-lhes do custo de vida, dos altos juros que pagamos pro banco...” Dona Maria teve certeza que aquele casamento não podia ir muito mais longe. Seu filho teria que perder a paciência um dia. Mas não parou ali. Pior foi escutar a estúpida mulher cuspir na cara do filho ofensa atrás de ofensa.<br />
<br />
“Não vai dizer nada? <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pelamordedeus!</i><br />
Quando é que você vai parar com os caprichos deles?... <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Seus pais? Meu amor, me desculpe o que vou dizer, mas você nem sabe o que é ter pais. O pai é você, sempre foi você, um coitado, com filhos velhos, mal agradecidos, mimados e abusados. E sabe que mais? Eu não tenho mais certeza quem é o retardado, se seu pai ou você e seus irmãos. Você não percebe que sua mãe faz de vocês o que quer? Veja sua irmã! Coitada, não tem vida própria. O marido viaja, sai pelo mundo, até você sabe que ele dá umas puladas de cerca e ela fica lá, naquela vidinha besta. Nunca saiu da cidade, uma ignorante com quem o marido não tem nem papo. Vai da casa dela para a dos velhos, depois retorna. Todosantodia! E só! Ela é secretária, doméstica, guardinha, motorista particular... E nós? Nunca temos dinheiro pra nada, vivemos endividados pra pagar os caprichos deles. Você percebe a estupidez da coisa? Se eu saísse contando essa doideira, ninguém ia acreditar. Às vezes tenho vontade de gritar de raiva, de contar pra meus pais, mas quer saber? Eu tenho vergonha por nós dois. Pau mandado de retardado é o que nós somos! Até quando, deus meu?! Logo, até eu vou endoidar!</i>”.<br />
<br />
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
... Silêncio...<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Escondida no corredor do quintal, na semi obscuridade, Dona Maria bebia cada palavra.<br />
Naquele momento apertava os punhos. O olhar era puro ódio. Naquela hora, já de camisola, encostada na parede, o cérebro dela paralisara. Uma palavra ecoava em sua mente “Retardadoretardadoretardado...” Sem nem lembrar de fazer silêncio, ela deu meia volta, empurrou a janela escancarada com tanta força que dentro do quarto, Ana e Tite se sobressaltaram. Os dois se entreolharam e correram a abrir a persiana, no mesmo momento, em que Dona Maria dava a volta e já entrava pela cozinha. Dentro da casa, no corredor, Ana abria a porta do quarto, ao mesmo tempo que Dona Maria fechava a sua ao lado. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tite vivia em constante conflito consigo mesmo e com a esposa.<br />
A gastrite lhe acusava o estresse e a consciência, mas a devoção aos pais o mantinha calado, mudo e cego às artimanhas de Dona Maria. Já Ana enxergava o que a todo custo o marido e cunhadas tratavam de acobertar. Foi assim que decidiu jogar duro. Virou-se sem fechar totalmente a porta e disse sentenciosa. Alto e bom som: “<i>Pra mim chega! Cansei a minha beleza. Não vou morrer nem de úlcera nem de câncer. Quero mais é viver e dar uma vida saudável às minhas crianças. Meus filhos têm toda uma vida pela frente. Merecem respeito e pais responsáveis.</i>”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ainda encostada à porta, Dona Maria ouviu música.<br />
A voz da serigaita parecia ter ganho notas, soando como música aos seus ouvidos. E foi assim que ela esqueceu a ofensa. Estava livre, e de repente ela começou a cantar. O velhote abriu os olhinhos míopes, e foi aos poucos entendendo que a sua velha cantava. Ficou olhando para ela maravilhado, até os olhos enormes, geralmente assustadores, por trás das lentes grossas, lhe pareceram lindos. Percebeu-a arfante e de repente estava excitado. Estendeu os braços e Dona Maria percebeu tudo, num piscar de olhos. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Jogou-se na cama com a agilidade de uma mocinha oferecida, correspondendo ao abraço do seu velho, desavergonhado como sempre fora. Foi assim que Dona Maria suspirou e deu gritinhos abafados como há muito não o fazia. Mas que velho desavergonhado, pensava ela consolada. Dormiram nas nuvens, o velhote franzino aninhado, feito bebé, junto ao corpanzil de Dona Maria.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Acordou leve.<br />
Cantante, distribuiu tapinhas e abraços na netaiada que vinha e ia, como sempre, nas filhas que nada entendiam, mas se contagiavam com a euforia. A mãe raramente abraçava. Precisava ser notícia muito boa para deixá-la em êxtase. Ultimamente vivia tão mal humorada, ríspida até com as crianças, que todos ficavam sem graça. Caminhavam em bico de pés, falavam sussurrando uns com os outros, e quase miavam com ela, pois pressentiam a ameaça de um ataque, e ninguém queria acender o pavio. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Assim foi uma surpresa mais que agradável encontrar Dona Maria naquela leveza.<br />
Todo mundo se entreolhava intrigado, e todos encolhiam os ombros aturdidos. Abanavam a cabeça, fazendo gestos com as mãos, mostrando de todo o jeito a ignorância do que quer que fosse que parecia estar acontecendo. Será que alguém próximo ganhara a mega? As euforias de Dona Maria tinham sempre a ver com dinheiro, bens, favores, presentes que lhe caiam em mãos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
De repente Dona Maria parou de xeretar as panelas.<br />
Levou o dedo à boca, pedindo silêncio, e aproximando-se da porta onde estava o filho e a nora, encostou o ouvido. Todos pararam e se entreolharam. "<i>Huuum!</i>" Junto ao fogão, a empregada falou baixo dirigindo-se às filhas sentadas à mesa:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“<i>Mas... Não tem ninguém ali.</i>” <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
”<i>Não?</i>”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“<i>Seu irmão saiu cedinho, colocou as malas no carro, as crianças estavam dormindo, a D. Ana já estava acomodada. Nem me viram.</i>” <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As duas irmãs se entreolharam assustadas, agarrando a mão uma da outra.<br />
Mara, sendo a mais velha, decidiu tomar a frente. Sua voz tremeu quando chamou a mãe. Sem escutar, Dona Maria continuava com o ouvido encostado à porta, sua mão sacudiu atrás das costas sinalizando silêncio. A filha aproximou-se e tocou-a de leve. “<i>Mãe?</i>” Virou-se contrariada. “<i>O mano foi embora.</i>” Dona Maria pensou não ter escutado direito. A filha repetiu. “<i>Besteira!", </i>falou, "<i>Seu irmão nunca iria...</i>“ Abriu a porta e parou aturdida, o olhar circulando repetidamente. As camas feitas, as mantas dobradas nos pés, os colchões encostados na parede... Nada fora do lugar. Ela voltou lentamente e sentou-se, ainda desnorteada. Percebendo a filha pegar o celular, recompôs-se de imediato. Sacudiu o dedo energicamente, fazendo cara feia. “<i>Não!</i>” enfatizou dura. Apenas isso. As duas irmãs voltaram a se acomodar em volta da mesa, tensas. Ninguém se atrevia a falar. Os grãos do feijão espalhados na mesa, que ainda à pouco as duas irmãs separavam, estavam agora esquecidos.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O telefone tocou rasgando o silêncio pesado.<br />
Mara demorou uns segundos a levantar-se. Pegou o fone sem atender, olhou o visor e disse encarando a mãe “<i>É o mano</i>”. Ante a mudez da mãe, Mara ergueu o braço trêmulo, sem saber o que falar. Cumprimentou o irmão com voz tremida. Incapaz de seguir, estendeu o fone à mãe, <span style="mso-spacerun: yes;">que o pegou ríspida, indiferente às lágrimas da filha</span>.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
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<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Dona Maria escutou por um longo tempo, depois pousou o fone na mesa.<br />
O silêncio era apenas quebrado pela água das batatas borbulhando. De repente, o caos manifestou-se numa sequência de movimentação aleatória e ruídos dissonantes. Um corpo pesado se ergueu, a mesa levantou de um lado e rebateu, os grãos de feijão deslizaram rápido para o chão, misturando-se novamente os ruins e os bons, uma cadeira caiu estrondosa, quase atingindo o cachorro que dormitava. Aos ganidos e correria espavorida do bicho, seguiu-se o barulho de talheres e louça atingindo o chão. Acima de tudo isso, a voz de Dona Maria, que estourara e ecoara pela vizinhança. Uma gritaria histérica, raivosa, ensurdecedora:<br />
<o:p></o:p></div>
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</style> <![endif]--> <!--StartFragment--> <!--EndFragment--> <br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- <i>“Vaaaaaacaaaaaaaaaa!... A-que-la Vaaaaaaaaacaaaaaaaa!... Su-a vaaaaaaaacaaaaaaaaaaa!..."</i><o:p></o:p><br />
<i><br />
</i> <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-BfgoDFwQxxk/VBBBAm4qQaI/AAAAAAAADfY/AfobmWdaGCE/s1600/Politica_na%CC%83o%2Bbasta%2Bter%2Bhistoria.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-BfgoDFwQxxk/VBBBAm4qQaI/AAAAAAAADfY/AfobmWdaGCE/s1600/Politica_na%CC%83o%2Bbasta%2Bter%2Bhistoria.png" /></a></div>
</div>
Carla Castro Maiahttp://www.blogger.com/profile/02622049595390979907noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4192609907234412654.post-84219368945597175602013-11-24T07:17:00.002-08:002016-10-16T18:24:09.171-07:00Dona Antônia<h2 style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm;">
<span style="font-size: 10.0pt;">“...como os
animais irracionais que só sentem aquilo que diretamente atinge a sua pele”.<o:p></o:p></span></h2>
<div class="MsoBodyTextIndent">
<a href="https://draft.blogger.com/blogger.g?blogID=4192609907234412654" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"></a><a href="https://draft.blogger.com/blogger.g?blogID=4192609907234412654" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"></a><span style="font-size: x-small;">“<i>Poucos são os que compreendem (e menos ainda os
que praticam) as alegorias e parábolas que Cristo usava para transmitir a sua
doutrina moral</i>”. </span><span style="font-size: x-small; text-align: right;">(O
Evangelho segundo o espiritismo, Allan Kardec)</span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: right;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyText" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 38.4pt 0.0001pt 70.9pt; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-_Ogh1sF3Khw/VrZVIre57ZI/AAAAAAAAa2A/2yz0Kq_PvXE/s1600/D.Gorda.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="160" src="https://4.bp.blogspot.com/-_Ogh1sF3Khw/VrZVIre57ZI/AAAAAAAAa2A/2yz0Kq_PvXE/s320/D.Gorda.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-size: 18.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">D</span>ona Antônia era dessas mulheres simplórias
que via nas adversidades as penalidades de cada um. A lógica era simples: se
até o filho de Deus tivera seu calvário, como poderiam meros pecadores passar
pela vida sem sua via-crúcis?<br />
<a name='more'></a><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
A vida de pobreza, o casamento
com um infeliz esquizofrênico, nada abalou sua alegria de viver, pois que a
vida era o bem maior de Deus. Um dia, o infeliz marido insistiu em ficar
postado, de pé, imóvel, no meio do mato, com os braços abertos em cruz. E ali
permaneceu. Chuva, sol e vento não o acordaram de sua demência, tão pouco a
família, amigos e curiosos que testemunhavam angustiados. Até que o pobre louco
caiu e não acordou mais.</div>
<o:p></o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt;">Dona Antônia aliviada,
pensou intimamente que já era hora. Depois da dura pena, sabia-se merecedora
dos Céus. Chorou e rezou o morto, como convinha a uma boa católica e seguiu,
trabalhando e criando os filhos, sem lamúrias. O sustento minguado tirava-o da
pequena lavoura, herdada dos velhos pais. Muito</span><span style="font-size: 12pt;">
</span><span style="font-size: 12pt;">trabalho duro ela tinha. Carpir, arar e plantar de sol a sol, no calor
ou no frio. Dessa vida, sobraram-lhe as varizes, uma casinha no vilarejo e a
pequena aposentadoria, que lhe trouxe o sossego merecido, mas também os quilos,
que não paravam de aumentar, e as dores nas pernas que se mostravam frágeis
para tanto peso.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Como tantos sitiantes, Dona Antônia não possuía os zelos de uma educação refinada,
percebido na rudeza dos gestos e no linguajar chulo. Mas a naturalidade
sobressaía-lhe como virtude. Com ela não havia mal entendidos, subterfúgios,
artifícios, meias palavras nem vergonhas. O mesmo valia para as necessidades
vitais do corpo. Era um tal de soltar ventos por cima e por baixo no maior à
vontade. Aprendera que era saúde.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Quando pequena, seu pai
dizia que insistir em prender os “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">ventos</i>”
que ansiavam por liberdade era lutar contra a natureza. Mas Dona Antônia tinha
seus escrúpulos. Diante de visitas era comedida, ou pelo menos tentava. Bom
garfo, comia com sofreguidão, mal respirando. Em meio a ruídos sôfregos de gula
e prazer, enfardava guloseima atrás de guloseima. Nessas horas, o ar mais
entrava do que saía. Mas depois não havia rolha que segurasse os ventos e os suspeitosos ruídos. E ai de quem estivesse por perto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Receber visitas era um suplício
constante. Quando precisava segurar-se por muito tempo, doía-lhe o peito,
sentia calores, desesperava-se com o reboliço dos gases dentro dela. Até que,
sem poder mais se conter, pulava do sofá com uma agilidade de causar espanto em
físico tão avantajado e ia-se feito um foguete. Chegava ao quarto suando mas
suspirando aliviada enquanto soltava os fluidos embaraçosos. Regressava calma,
sorridente, sentindo-se leve, retomando a conversa exatamente no ponto em que
parara. Se, por acaso, escapavam uns odores intrometidos, desculpava-se com
seus dois cachorros que viviam pela casa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Mas o que mais contribuía
para a felicidade simples de Dona Antônia, era o tempo que lhe sobrava para
glorificar o Senhor. Com as outras beatas, cuidava da igreja como de sua casa.
Cristã ao extremo e temerosa dos castigos do céu, fazia-se presente todos os dias na igreja
rezando por seus pecados. Voltava sentindo a paz e a segurança, que só os
tementes a Deus conheciam. Se, por um acaso, uma ovelha desregrada sofria um
infortúnio, comentava que tal não aconteceria se a igreja freqüentasse. Quando porém a desgraça atingia fervoroso sofredor do
Senhor, lamentava em coro com outras beatas “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Árduos são os caminhos do senhor</i>.” <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Confinada em um mundo
pequeno, a vida prosaica de Dona Antônia tinha fronteiras bem definidas: sua
família, a igreja, os mexericos da comunidade e as novelas na TV. Sua alegria
era completa quando recebia as três filhas que terminaram se mudando para a
cidade grande, atrás de oportunidades e emoções. Era difícil ali estarem todos
juntos. A visita mais fiel era de sua caçulinha, Tetê.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nos últimos tempos, acompanhava-a o namorado,
Netinho. Um homem sério, que desagradara Dona Antônia, desde o começo, por se
recusar a acompanhá-las à missa. A própria filha o desculpava, dizendo que
Netinho se sentiria deslocado. Dona Antônia resmungava, olhando de soslaio o
talzinho, que vivia com a “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">fuça</i>” no
jornal. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Os anos foram passando e
Dona Antônia foi-se incomodando com aquele namoro que “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">não atava nem desatava</i>”. Cobrava do futuro genro, dizendo que a
filha começava a ficar “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">falada</i>”.
Sentia nas perguntas dos curiosos a censura velada, os olhares de compaixão e
os tapinhas consoladores na mão “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Logo ela
casa</i>”. Por seu lado, Tetê, a menina pura de mamãe Antônia, decidiu que era
hora de dar a última cartada, pois de tonta e casta não tinha nada. Antes
de mais, era necessário avivar o fogo do namorado “bundão".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Netinho usufruía dos
repentinos e ardentes anseios carnais da namorada, mas fazia-se de surdo às
palavras de mamãe Antônia. Como a pressão se tornasse insistente, a ponto de
Dona Antônia enfiar a cara no seu jornal, para ter certeza de que era escutada,
começou a desculpar-se com afazeres inexistentes para fugir aos finais de
semana na casa da sogra. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Tetê começou a ficar
exasperada e travou conversa franca com a mamãe. Dona Antônia, mãe amorosa,
acima de tudo, entendeu os anseios da sua menina em querer uma vida fácil “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">a vida que a Deus pedira</i>”, que, dizia,
teria, com toda a certeza, se com Netinho casasse. Mas estava difícil, ainda
mais agora que ele começara a sentir-se acossado com tanta cobrança. Do jeito
que a coisa ia, disse Tetê debulhada em lágrimas, até o namoro perigava, assim
como todos seus sonhos de fartura. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Dona Antônia, protegida e
aos seus, como acreditava, pelos guardiões do Senhor, nada via de errado no que
se referia a seus atos e muito menos, de suas crias. Tratou de arrastar o
corpanzil e as pernas intumescidas, em busca de milagreira famosa. Tetê deveria
ministrar as ervas ao namorado em datas determinadas. A beberagem era
completada com simpatias, rezas e velas a Santo Antônio. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Quatro meses se passaram e
Dona Antônia, refestelada no velho sofá da sala, deleitava-se com os docinhos e
as fotos do casamento de Tetê que chorara baba e ranho pra conseguir que o
noivo abrisse os bolsos pra festança do casório. Dona Antônia ficara tão
indignada com a frieza e a sovinice do genro, que nem controlava a
ventania fedorenta, culpa do feijão tropeiro ingerido no almoço. Não deu outra,
botou as mãos na cintura e soltou o verbo. Foram muitos e todos bons, com a
graça do Senhor Deus, que nunca a abandonava. Naquele momento Dona Antônia com
toda a autoridade outorgada por sua grande devoção, sentiu que o Senhor lhe
ordenava que iluminasse aquela alma pecadora e avara. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Mas então quem ele pensava
que era para tratar sua menina daquele jeito? Tanta teimosia por causa de uns
trocados para data tão importante na vida de uma moça? Um homem que tanto
tinha? O que seria de Tetê e do nenê que vinha a caminho, com um pai que não
aprendera a dividir o pão?... Como é que é? Exagero de sogra? Ela estava
confundindo as coisas? “<i>Pois fique o senhor sabendo, meu genro,...</i>”<i> </i>que ela
entendia sim e muito bem o tamanho da safadeza. Agora que embuchara a sua
menina, ela percebia as forças do mal querendo invadir sua casa, mas com ela e
Tetê, uma menina doce e ingênua criada sob as graças do Senhor, ele não iria
fazer farinha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 38.4pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">
O coitado foi tomado de tal
nervosismo diante daquele palavreado desconexo, acompanhado de uma torrente de
perdigotos e mau cheiro, ao som das fungadas escandalosas da noiva, que a partir daquele momento
adquiriu um tique nervoso contínuo que deformaria para sempre seu rosto. Dona
Antonia não tinha dúvidas ser aquele, um castigo de Deus. Mas Tetê sofreria
também com aquela deformidade. Quando se entregava aos desejos do marido, mesmo
fechando os olhos, percebia o movimento irritante no rosto em cima do seu, e
aqueles momentos viravam tormentos de muitas horas. <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><br /></span>
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-BfgoDFwQxxk/VBBBAm4qQaI/AAAAAAAADfY/AfobmWdaGCE/s1600/Politica_na%CC%83o%2Bbasta%2Bter%2Bhistoria.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-BfgoDFwQxxk/VBBBAm4qQaI/AAAAAAAADfY/AfobmWdaGCE/s1600/Politica_na%CC%83o%2Bbasta%2Bter%2Bhistoria.png" /></a></div>
</div>
Carla Castro Maiahttp://www.blogger.com/profile/02622049595390979907noreply@blogger.com0